“Vós ouvistes o que foi dito: ‘Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo!’. Eu, porém, vos digo: ‘Amai os vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem!'” (Mateus 5,43-44).
Quando se fala de amor, logo pensamos no amor às pessoas queridas, amadas. Fica até redundante: amor a quem é amado, e esse amor nós temos de cuidar. Mas, agora, precisamos cuidar do amor que não é amado; que está ferido, machucado; do amor que não está reconciliado e, muitas vezes, está esfacelado. Esse amor que, um dia, foi uma amizade; foi próximo e, depois, tornou-se distante. Precisamos cuidar do amor que se feriu e, aos poucos, está acabando.
O amor aos inimigos é, acima de tudo, a cura das profundezas da nossa alma e do nosso coração. Nós percebemos na nossa história, na nossa existência que nós nos decepcionamos com pessoas e elas também se decepcionam conosco. Pessoas que estavam ao nosso lado e, muitas vezes, já não falam conosco; que eram próximas a nós mas estão distantes; pessoas que queríamos bem, mas não queremos nem proximidade; pessoas que achávamos ser a melhor pessoa do mundo, agora, rotulamos como falsas.
Nem vou entrar nos pormenores das situações particulares que cada um viveu, pois, o que precisamos é amar porque só o amor cura; só o amor salva; só o amor transforma; só o amor vivido na sua intensidade é que, de fato, gera uma nova humanidade.
Só o amor cura, só o amor salva, só o amor transforma
A nova humanidade é o homem novo, é a mulher nova. Como uma pessoa é uma pessoa nova se ela está cheia de feridas e alma dela está marcada por situações mal resolvidas?
Então, ame quem não é seu amigo. “Eu não tenho inimigos”… Ora, há pessoas que não nos querem bem, nós vamos ignorar isso? Faz-se até uma lista das pessoas que não nos querem bem, mas reconheçamos também aquelas que nós não queremos bem. Isso nós não podemos ignorar, pois, não fazemos mal ao outro, mas há dentro do nosso coração pessoas que estão “travadas”, esquecidas no porão da nossa alma. Façamos essa lista para orarmos por elas.
Há pessoas que não nos perseguem diretamente, mas perseguem a nossa alma, a nossa paz interior; perseguem as profundezas da nossa alma que nó isolamos, mas precisamos abrir para sermos livres. E, para tal, só há um jeito: amando e orando.
Ninguém precisa voltar a viverem juntinhos, abraçadinhos, dizer: “É o meu melhor amigo”. Não, não se trata disso! Trata-se de, dentro de nós, não permitirmos que ninguém mais faça o mal ao nosso interior e nós também não o façamos ao outro porque não o queremos bem (…). Tratemos com seriedade a conversão da alma e do coração; e a seriedade que podemos dar agora é amar; amar os inimigos com o amor que podemos dar. O primeiro passo é orarmos por eles com todo o nosso coração, para que as sendas do nosso coração possam-se abrir, então, livres do ressentimento, da mágoa e do rancor, a nossa alma será destravada.
Deus abençoe você!