“Senhor, quantas vezes devo perdoar se meu irmão pecar contra mim? Até sete vezes? Jesus respondeu: ‘Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete’” (Mateus 18,21-22).
Dentro do nosso coração existem sempre situações onde precisamos ser perdoados, e precisamos perdoar os nossos irmãos. A primeira hipocrisia da qual precisamos nos libertar é a do orgulho e da arrogância, até evangélica. Porque, às vezes, a pessoa acha que ela é a ferida, ela é sempre a machucada, é ela que tem sempre que perdoar. “Eu já perdoei bastante, não perdoo mais”. Mas ela não se toca de que ela precisa muito de perdão, que ela fere, que ela machuca, que ela faz mal ao outro.
Na visão hipócrita religiosa, a pessoa sempre acha que a ferida que o outro causa é, realmente, grande. “O que eu faço não, eu não machuco ninguém. Não faço mal”. Liberte-se dessa visão hipócrita!
Precisamos, todos os dias, do perdão de Deus e dos irmãos, pois somos falhos, negligentes, não somos atenciosos. É a nossa realidade! Tenho que, publicamente, pedir perdão para as pessoas, porque eu não consigo ser, muitas vezes, o padre que eu precisava ser: mais atencioso. Sei que não dou atenção e, muitas vezes, também, intencionalmente, eu falho, sou egoísta, sou grosso com este ou com aquele.
Preciso de perdão, tenho muito que procurar a misericórdia de Deus
Preciso de perdão, tenho muito que procurar a misericórdia de Deus e, todos os dias, fazer um exame de consciência, procurar o sacramento da confissão, porque estou sempre em dívida com meu irmão. E como diz a Palavra: “A ninguém fiqueis devendo nada” (cf. Romanos 13,8).
Não gosto de ter dívida com ninguém, a não ser o amor mútuo. Em termo de amor, estou sempre devendo, estou sempre precisando recorrer ao perdão. E, por favor, não pode ser aquela coisa superficial, tem que ser uma coisa real, autêntica e plena. Eu preciso do perdão!
Na visão dos Pastorinhos, o purgatório está cheio de almas que não foram purificadas. E não adianta, pois se não nos purificarmos, como nos ensina o Evangelho do próprio Mateus: “Se eu não procurar reconciliar-me com meu irmão enquanto estou a caminho, eu vou ser entregue ao juiz. De lá não vou sair até a última moeda ser paga”. Então, estou em dívida com meu irmão, preciso reconciliar-me, preciso procurá-lo.
Olhando o Evangelho de hoje, não sejamos esse empregado “sem vergonha”, pois este tomou consciência da sua dívida, foi pedir perdão (a dívida era grande) e o seu patrão o perdoou. Mas quando veio o outro que devia uma mesquinharia ao empregado, este foi cruel.
Estamos sendo muito cruéis uns com os outros, é a crueldade para perdoar, e esta vai se tornando uma maldade dentro de nós, porque junta rancor, ressentimento, mágoa, e isso vira um caldo que se transforma em ódio dentro de nós, e nos tornamos pessoas implacáveis. “Quem perdoa é Deus, eu não perdoo”.
Sim! Quem perdoa é Deus, mas não sou um filho de Deus? Não sou um seguidor? Não faço comunhão com Deus? Como vou ter comunhão com Ele se não sei, se não aprendi, até hoje, que tenho que perdoar setenta vezes sete? Porque essa é a quantidade de perdão de que eu preciso todos os dias.
A lógica que parece sem lógica é essa: preciso tanto de perdão que eu não posso ser “sem vergonha”. O que eu preciso, eu preciso dar; o que eu desejo para o outro, eu preciso fazer também a ele, mas se vivo aquela visão do mundo egoísta, que eu só tenho que receber e não doar, eu realmente não sei perdoar.
Infelizmente, muitas vezes, estamos vivendo essa tristeza até dentro do nosso ambiente religioso. Irmãos que não se perdoam, irmãos que se fecharam, estão entravados na mágoa, no ressentimento, no rancor, falando mal uns dos outros. Falam até bonito, cantam para Jesus, pregam Jesus, mas quando abrem a boca no cotidiano, é para falar mal uns dos outros.
Sem perdão não há Reino dos Céus!
Deus abençoe você!