Professor de Mariologia explica como os evangelhos expressam a figura da Mãe de Cristo
André Cunha
Da redação, com produção de Denise Claro
A Igreja no Brasil vive o Ano Mariano desde outubro do ano passado. Especialmente neste período, os fiéis reforçam a importância de Maria na história da Igreja e da humanidade, sobretudo, na vida do povo brasileiro.
Nos evangelhos, alguns episódios da vida de Maria estão descritos em Mateus, Lucas, Marcos e João. Mas o primeiro livro do Novo Testamento que a cita é a carta de São Paulo aos Gálatas (Gl 4,4): “Mas quando veio a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, que nasceu de uma mulher e nasceu submetido a uma lei…”. A carta foi escrita 17 anos após a morte de Cristo, de acordo com historiadores.
Já o livro do Apocalipse fala de Maria no capítulo 12, em forma metáfora: “Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas” (Ap 12, 1). Segundo a ótica do Magistério, a figura da “Mulher” pode ser atribuída tanto à Igreja como a Maria.
Alguns autores, jornais e revistas seculares se aventuram ao trazer dados sobre a vida de Maria. Mas para o professor de Mariologia na Faculdade Dehoniana, padre João Carlos Almeida (Pe. Joãozinho, scj) o mais seguro é se apoiar naquilo que a Bíblia afirma sobre Maria e que foi transformado em doutrina dogmática pelos primeiros Concílios do cristianismo como os de Niceia, Éfeso e Calcedônia. Perdendo estes referenciais pode-se cair em uma visão distorcida, estreita ou mesmo superdimensionada da figura de Maria. O Concílio Vaticano II recordou no capítulo VIII da Lumen Gentium qual é o lugar de Maria entre o mistério de Cristo e da Igreja.
O evangelho de Lucas é o que mais fala de Maria, portanto, segundo padre João, é o que mais favorece o conhecimento sobre ela. O evangelista apresenta Maria como discípula e missionária, desde a anunciação do Anjo até o canto do Magnífica na casa de Isabel, sua prima.
“Por isso, Maria é modelo para todo cristão: ouvir a palavra e viver a palavra. E essa é a dinâmica, tornar-se um discípulo missionário. É o que Lucas quer nos dizer a respeito de Maria”.
Se no evangelho de Lucas e Mateus Ela aparece como modelo de discípula missionária, no evangelho de João aparece como intercessora: “eles não têm mais vinho…”, diz Maria a Jesus, segundo os escritos de São João. “É a mesma coisa que ela continua dizendo junto a seu Filho como intercessora”, diz o padre.
“Espírito e a Esposa dizem: vem”. É o que se pode ler ao final do Apocalipse. Sobre este trecho, o padre recorda que Maria é a Esposa do Espírito Santo, então, das criaturas, é a que está mais próxima de Deus e dos homens. “Ela é pra nós modelo de vida e intercessora”, destaca.
Livros apócrifos
Apócrifos são os livros que foram escritos pelo povo de Deus, mas não foram considerados pelo Magistério da Igreja como revelados pelo Espírito Santo; portanto, não são canônicos, isto é, não fazem parte do cânon (índice) da Bíblia.
Padre João afirma que os livros apócrifos estão mais atentos às “questões periféricas e espetaculares de Maria, e atribuem a Ela um poder que não tem, afinal, ela não é deusa”. Já os evangelhos sagrados deixam uma “sensação muito discreta de Maria”; “e é isso que ela é, uma Mulher discreta”, afirma o sacerdote.
Por fim, o padre concluiu que, acerca dos livros apócrifos, se um católico não os ler, não perderá nada. “O que está na Bíblia é o suficiente para a nossa fé”, diz.